Abraço entre fronteiras, de Larissa Vilas

Leia abaixo um trecho de Abraço entre fronteiras, romande de Larissa Vilas:
 
Na primeira vez que ela pensou na palavra êxodo e no seu real significado,
estava na quarta série do Ensino Fundamental II, a professora de Português pediu uma redação sobre o êxodo rural e ela, tinha visto aquela palavra apenas nas histórias na igreja, nunca tinha parado para pensar no que ela realmente significava.
Essa criança, apesar de interessada nos estudos, enrolou a escrita por mais ou menos 25 ou 30 linhas do seu caderno de uma matéria, aqueles de capa dura e de uma cor só, vermelho. E, só depois de anos, realmente entendeu o significado daquele determinado momento da sua vida escolar. Antes, ela não sabia que tinha proximidade com o tema daquela redação.
Sua mãe, Cícera, precursora do êxodo em sua própria vida, representava
uma grande parcela da população nordestina que toma a decisão de migrar para cidades maiores. Um pouco depois da sua primeira década de vida, aventurou-se a sair de sua casa, no meio de serras do sertão, para a casa de familiares em uma cidade próxima. Queria crescer.
De tanto trabalhar como o que hoje chamamos de secretária do lar, suas
mãos, brancas, de dedos compridos e de pele fina, moldaram-se à realidade de seu trabalho e a pele, que antes era delicada e juvenil, passou a ser mais grossa, resultado das roupas lavadas, dos chãos varridos, dos pratos lavados e das outras mil atividades que exercia durante seu dia. Igual à vida.