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Sopro, de Luiz Menezes

Sopro, de Luiz Menezes

Leia abaixo dois poemas de Sopro, de Luiz Menezes:

 




 

o domingo

 

na cruzadinha coquetel nível médio, me perguntam qual é a articulação complexa entre o braço e a cintura escapular

— com cinco letras —

e é óbvio que eu não sei a resposta mas penso em você,

que não está aqui porém com certeza teria a resposta

porque é isso que imagino que você estudou nas suas aulas

de anatomia. é isso que eu esperaria de você,

saber as articulações e saber me ajudar a preencher a cruzadinha coquetel

nesse domingo de frio.

 

penso em você e no som

que todas as minhas articulações fazem

quando envolvo seu corpo no meu

 

penso em você e em como deito minha cabeça no seu ombro

todo domingo e fico.

 

só fico. 

 

era ombro

ou era amor?

 

(ah, amor tem quatro).

 

sete de copas

 

meus cabelos brancos minhas unhas mal-cortadas meus pelos no nariz

minha aparente falta de tato meu mau humor matinal minha crueza inapropriada meus dentes abertos

minha acne recorrente meus quilos a mais

e minha pochete involuntária meus pés chatos chatíssimos minhas camisetas rasgadas meu coração traumatizado

minha short-term memory sendo sempre very short minha cabeça que grava amenidades sem necessidade meu ódio em almoçar tarde demais

meu amor pelas manhãs de domingo

 

pra você eu abro a porta eu mostro a bagunça pra você eu peço ajuda eu levanto o tapete

pra você eu entrego tudo até essas coisinhas

que denunciam minha idade, minhas debilidades, que me tornam uma folha seca no chão:

 

deixo em suas mãos a escolha de pisar

ou guardar no meio de um livro

 

deixo-me em suas mãos pra que escolha ser feliz

com ou sem

meus cabelos brancos.

  • Sobre o autor:

    Luiz Menezes é historiador da arte e publicitário. Poderia se apresentar como poeta, mas acha a definição presunçosa — ou só não tem, ainda, autoestima o suficiente. Escrevendo pelo teatro e pela internet, lançou seu primeiro livro independente em 2020, “tudo o que eu queria dizer mas desisti”  e, desde então, escreve poesia compulsivamente. São do autor “e foi assim que eu voltei a dormir” (2022), pela Caravana Grupo Editorial, e “sal” (2023), pela Editora Patuá. Segue existindo, fotografando e raramente rimando, suas maiores armas contra a brutalidade do mundo.

  • Informações do produto:

    Capa comum: 162 páginas

    Editora Libertinagem: 2ª edição

    São Paulo: março de 2025

    Formato: 14x21cm

  • IMPORTANTE:

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